A obrigatoriedade de implantação da construção numa área praticamente quadrangular, central ao terreno, com cerca de 375 m2, conjugada com a vontade do cliente de ter uma casa térrea e a limitação de 200 m2 de superfície total de pavimento (STP), foi o ponto de partida para o projeto. Paralelamente a orientação solar e a localização dos acessos no quadrante noroeste do terreno, foram também peças importantes na distribuição funcional da casa.
Rapidamente se tornou evidente a necessidade de traçar dois eixos que definissem quatro pontos de vista do interior para o exterior e que consequentemente definissem um centro da casa, em torno do qual tudo se distribui. Um eixo norte/sul que atravessa a casa da entrada até à piscina, passando pelas salas de jantar e de estar sucessivamente. E um eixo visual poente/nascente que trespassa a casa, da rua pública até à zona de refeições exterior e ao jardim, definindo o centro da casa na sala de jantar.
A marcação de vãos nos limites de cada um destes eixos visuais ortogonais permite penetrar visualmente na casa do exterior para o exterior. Este dramatismo acentua a centralidade da sala de jantar, razão pela qual se tornou premente o aumento do pé direito neste núcleo. Deste modo surgiu um motivo para quebrar a horizontalidade de uma casa térrea assinalando o centro nevrálgico do terreno e da casa num espaço de partilha e convívio como é a sala de jantar.
A orientação da casa segundo estes dois eixos ortogonais condicionou a distribuição interna dos espaços. No eixo principal, norte/sul, surgem sucessivamente os espaços sociais, cozinha, sala de jantar e sala de estar, de norte para sul, da entrada exterior até ao espaço da piscina.
O eixo secundário funcionou com veículo de distribuição interna para os espaços mais privados da casa. O sótão, funciona como galeria de circulação em mezzanine em torno do pé-direito alto da sala de jantar. E dá acesso ao terraço sobre o volume dos dois quartos e da sala de estar, no quadrante sul/nascente, aberto para a Serra da Arrábida. Este piso de sótão surge apenas com dois propósitos, por um lado, garantir o acesso ao terraço com vista para a Serra da Arrábida. Mas a sua função mais importante é espacial e volumétrica.
Do ponto de vista arquitetónico revelou-se essencial, numa casa térrea com uma distribuição interior muito horizontal, assumir do ponto de vista volumétrico exterior a verticalidade do centro da casa. Espacialmente, como já acima referido, o pé direito mais alto no encontro dos dois eixos diretores da composição revela-se essencial na forma de habitar e sentir a casa. No mesmo sentido, ainda do ponto de vista espacial e de funcionamento interno da habitação, revelou-se importante baixar a cota de pavimento da sala de estar em relação ao centro da casa, e aos restantes compartimentos habitáveis. Desta forma, a sala de estar garante algum recolhimento, conforto e privacidade, numa casa que obriga a uma circulação e ocupação estendida no terreno e como um todo. Por outro lado, este desnível acompanha a pendente do terreno e permite uma transição para o exterior deforma mais natural e dinâmica, no acesso à zona da piscina e ao jardim a nascente.